joao lopes
24 Abr 2014 17:33
O novo filme do veterano alemão Volker Schlöndorff, "Diplomacia", adapta um texto teatral de Cyril Gely, sobre um momento muito específico da Segunda Guerra Mundial. Tudo se passa na noite de 24 para 25 de Agosto de 1944, quando o comandante das tropas alemãs (Niels Arestrup) que ocupam a França tem ordens directas de Adolf Hitler para destruir Paris; os aliados já desembarcaram na Normandia e, face ao oficial nazi, num esforço diplomático de última hora, está o cônsul da Suécia (André Dussollier), empenhado em negociar uma solução que impeça a devastação da Cidade Luz…
"Diplomacia" constitui, assim, mais um interessante sintoma de uma tendência que, de uma maneira ou de outra, marca a produção cinematográfica dos últimos anos. Em jogo está a vontade de reconsiderar as memórias da Segunda Guerra Mundial a partir de factos que estão para além dos cenários mais tradicionais do clássico filme-de-guerra — encontramos sinais de tal tendência tanto no delírio surreal de "Sacanas sem Lei" (2009), de Quentin Tarantino, como no perturbante intimismo de "Lore" (2012), de Cate Shortland.
Não por acaso, a contribuição dos actores adquire, aqui, um valor fundamental. Sem receio de conservar a teatralidade da situação, Schlöndorff dirige Arestrup e Dussollier num verdadeiro combate ideológico e moral cujo desenlace, como é óbvio, transcende as atribulações particulares dos destinos individuais (como curiosidade, vale a pena referir que vimos Arestrup em "Um Profeta", de Jacques Audiard, e Dussollier em vários dos títulos finais de Alain Resnais, incluindo "As Ervas Daninhas").
Na trajectória criativa de Schlöndorff, "Diplomacia" prolonga uma linha de força temática que, em boa verdade, atravessa os universos de vários autores nascidos na mesma conjuntura artística (Fassbinder, Kluge, etc.). Abordando a Segunda Guerra Mundial ou outros momentos da história alemã, Schlöndorff foi sempre um retratista crítico de um país assombrado pelos seus fantasmas colectivos — "O Tambor" (1979), inspirado no livro de Günter Grass, permanece como o exemplo mais universal da sua visão.