John Malkovich (à direita) é o Casanova imaginado pelo realizador austríaco Michael Sturminger


joao lopes
7 Dez 2014 19:02

Sem ser uma personagem regular na história do cinema, o certo é que Giacomo Casanova (1725-1798) possui uma curiosa filmografia — desde os tempos do mudo até à actualidade, passando, claro, pela referência central de Federico Fellini, com o seu "Casanova" (1976), protagonizado por Donald Sutherland.

O novo Casanova — mais precisamente, "Variações de Casanova", dirigido pelo austríaco Michael Sturminger, com produção do português Paulo Branco — possui como fundamental elemento definidor a integração de diversas árias de óperas de Mozart.
Dito de outro modo: este é um filme em que oscilamos permanentemente entre a acção real e a sua "duplicação" teatral, num jogo de espelhos de que Casanova é, de uma só vez, o protagonista e o fantasma.
Há, por isso, um efeito de calculada ironia que atravessa todo o filme: por um lado, deparamos com uma figura assombrada pela sua própria fama de "grande sedutor"; por outro lado, a sua trajectória envolve uma colecção de máscaras que faz com que, em última instância, o descubramos também contaminado por uma cruel solidão.
Para além de um elenco internacional, que inclui vários nomes portugueses (Maria João Bastos, Victoria Guerra, Maria João Luís, etc.), "Variações de Casanova" vive, antes de tudo o mais, da presença irradiante de John Malkovich — num exercício de calculadas duplicidades, Malkovich compõe um Casanova que carrega o peso da história, ao mesmo tempo que nos convoca para um presente saborosamente teatral.

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