Ana Padrão dirigida por Bruno de Almeida — sob o signo da


joao lopes
1 Jun 2018 1:37

Filmar o Cais do Sodré a partir da sua mitologia? Ou contra ela? Dir-se-ia que Bruno de Almeida encontrou uma solução ambígua, ambiguamente fascinante, para responder a tais perguntas. Com o seu "Cabaret Maxime", o Cais do Sodré surge, inequivocamente, como um cenário da noite lisboeta; ao mesmo tempo, tudo se passa como se vogássemos no espaço abstracto de um filme americano de série B, algures nos anos 40/50.

E não será por acaso que somos levados a evocar o cinema americano, em particular um certo espírito independente que, de uma maneira ou de outra, sempre contaminou a produção de Hollywood. Acontece que Bruno de Almeida tem sido, e continua a ser, um cineasta em permanente ziguezague criativo entre Portugal e os EUA. Para mais, reflectindo essa oscilação no elenco de vários dos seus filmes.
Assim, em "Cabaret Maxime" deparamos com um trio de actores que já tinha marcado outra longa-metragem de Bruno de Almeida: "The Lovebirds" (2007), também uma crónica de raiz lisboeta. São eles Ana Padrão, Michael Imperioli e John Ventimiglia. Agora, Imperioli surge como Bennie Gazza (óbvia homenagem a Ben Gazzara), proprietário de um cabaret ameaçado pela "modernização" imposta por grupos não muito cordiais nos seus métodos…
Ana Padrão e John Ventimiglia surgem como personagens desse cabaret enraizado num conceito de espectáculo que a crueza dos tempos parece querer destruir para sempre. Dito de outro modo: este é, de facto, um filme marcado por uma nostalgia cinéfila, serenamente fora de moda, que não abdica do cinema como arte de expor os contrastes afectivos dos humanos — cinema de outro tempo para inscrever um pouco de beleza no nosso desencantado presente.

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