Marisa Tomei e Isabelle Huppert: como preservar o gosto cinéfilo?


joao lopes
12 Dez 2019 23:08

Gente do cinema reunida num cenário estrangeiro, porventura estranho… Eis uma variante cinematográfica que, em boa verdade, acompanha as convulsões do próprio cinema. No caso de "Frankie", trata-se de encenar a breve estadia da actriz Françoise Crémont, aliás, Frankie, em cenários portugueses — o seu estado de saúde leva-a a reunir familiares, amigos e companheiros de trabalho…

Realizado pelo americano Ira Sachs ("Homenzinhos"), este é um daqueles filmes que confunde a possível sedução das suas personagens — e também dos respectivos intérpretes — com a genuína construção de uma narrativa. E o mínimo que se pode dizer é que o elenco é, no mínimo, competente: Isabelle Huppert interpreta Frankie, contracenando, entre outros, com a americana Marisa Tomei e o irlandês Brendan Gleeson.


Claro que reconhecemos aqui o peso (e, mais do que isso, o fascínio) de uma tradição de histórias de exílio artístico que gerou títulos tão fascinantes como "Duas Semanas Noutra Cidade" (1962), de Vincente Minnelli, "O Desprezo" (1963), de Jean-Luc Godard, ou "O Estado das Coisas" (1982), de Wim Wenders, este também rodado em Portugal… mas não bastam as belas referências para sustentar uma narrativa.

Ironicamente, estamos perante um filme que tenta preservar um certo gosto cinéfilo, tendo como objecto, precisamente, o trabalho com as formas narrativas e o labor de composição dos actores. É verdade que as paisagens portuguesas são sedutoras, por vezes enigmáticas, mas "Frankie" vai-se perdendo em situações dramaticamente inconsistentes e diálogos erráticos, entre o naturalismo fácil e uma pompa francamente deslocada. Moral da história: o cinema independente tem também os seus lugares-comuns.

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