Awkwafina e a personagem da avó (Zhao Shuzhen): um Globo de Ouro de interpretação

crítica

O cinema entre EUA e China

"A Despedida" ganhou especial evidência nesta temporada de prémios. Infelizmente, a história da família americana que visita a avó que vive na China não ultrapassa as matrizes mais banais do "telefilme familiar".

Comédia

Num contexto de rotina, "A Despedida" talvez não justificasse mais do que uma nota de rodapé. Eis um filme "dramático" que se apoia num segredo partilhado, logo a abrir, com o espectador: a avó daquela família tem um cancro terminal e todos decidem ocultar-lhe os resultados dos seus mais recentes exames médicos… Num certo sentido, "A Despedida" mais não procura do que manter o banal efeito emocional do truque: nós sabemos, ela não sabe…

O certo é que não estamos numa situação rotineira. Desde logo, porque "A Despedida" conseguiu obter um prémio significativo nos Globos de Ouro atribuídos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood: a intérprete da personagem da neta que decide viajar até à China, acompanhando a família na sua visita à avó, Awkwafina, foi distinguida como melhor actriz no sector de musical ou comédia.

Além disso, esta é uma produção que ilustra os cruzamentos cada vez mais importantes da produção dos EUA com temas ou entidades enraizadas noutros universos, nomeadamente no continente asiático. Dá-se mesmo o caso insólito, mas curioso, de "A Despedida" ter sido nomeado para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro (é, no essencial, falado em mandarim), embora sendo gerado por uma companhia norte-americana [A24].

É pena que todos estes elementos acabem por ser reduzidos às matrizes mais banais do "telefilme familiar". Aposta-se mesmo naquela incómoda ambiguidade que faz com que a dimensão dramática das situações acabe sempre por ser contaminada por uma lógica caricatural à beira do paternalismo.

O filme não estará na corrida ao Oscar de melhor filme estrangeiro (aliás, de acordo com a nova designação, filme internacional), já que não consta da lista final dos dez nomeáveis. Seja como for, "A Despedida" fica como um sintoma claro das actuais ramificações asiáticas do cinema americano — e tanto mais quanto a sua realizadora, Lulu Wang, nasceu na China e vive nos EUA desde os 6 anos de idade.