crítica
O cinema no labirinto das algas
É um dos títulos nomeados para o Óscar de melhor documentário: "A Sabedoria do Polvo" traz-nos uma perspectiva rara sobre a vida no fundo do mar.

joao lopes
1 Abr 2021 0:36
Perante um filme como "A Sabedoria do Polvo" (Netflix), vale a pena recordar uma velha máxima, de uma só vez cinéfila e existencial. A saber: o cinema serve para nos mostrar aquilo que nunca vimos.
Assim é, literalmente: este é um documentário — nomeado para os Óscares — construído a partir da relação que Craig Foster, cientista da África do Sul, investigador da vida nos oceanos, estabelece com um… polvo! Relação? É verdade: durante muitos meses, as visitas diárias ao labirinto de algas em que vive o polvo fazem com que humano e o molusco se entendam e toquem.
Assistimos a um verdadeiro processo de aprendizagem — aliás, o título original é "My Octopus Teacher" (à letra: "O meu professor polvo"). O filme apresenta-se, aliás, sustentado por um muito básico, mas essencial, discurso ecológico. A existência daquele polvo é um exuberante sinal (apenas um, entre muitos) das formas de vida que existem em domínios (aquáticos, neste caso) que importa preservar dos abusos da "civilização".
O valor cinematográfico de "A Sabedoria do Polvo" decorre da agilidade com que a dupla de realizadores — Pippa Ehrlich, James Reed — soube registar as imagens do fundo do mar. Trata-se, afinal, não de coleccionar postais "ilustrados", antes de dar a ver as infinitas nuances de um mundo desconhecido. Para Craig Foster, este é um capítulo essencial do trabalho do seu Sea Change Project.
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