Florence Pugh é a figura central do elenco de


joao lopes
21 Jul 2017 1:31

Face a "Lady Macbeth", imediatamente reconhecemos que o seu ponto de partida é invulgarmente interessante. Trata-se de transferir para a Inglaterra rural de meados do século XIX o romance russo "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk" (1865), de Nikolai Leskov: uma saga de paixão e traição, inocência e perversidade que esteve na base de uma ópera de Dmitri Shostakovich e um filme de Andrzej Wajda, respectivamente de 1934 e 1962.

É óbvio que estamos perante um objecto de muitas competências. O realizador William Oldroyd, um encenador teatral a estrear-se na longa-metragem, rodeou-se de um elenco de grande consistência, liderado por Florence Pugh, com contribuições técnicas acima da média (com inevitável destaque para a direcção fotográfica de Ari Wegner). Resta saber se um filme se pode reduzir a essa acumulação de componentes profissionais…

Acontece que "Lady Macbeth" cedo se instala num formalismo "descritivo" em que a ostentação académica de um certo visual parece ser um fim em si mesmo. A relação de submissão da personagem central ao marido e, depois, o seu envolvimento amoroso com um criado arrastam muitas tensões e sugestivas contradições — o certo é que o tom não supera o exibicionismo mais ou menos decorativo de um telefilme de luxo.
Digamos que a relação contemporânea com a herança de Shakespeare — nem que seja, como aqui acontece, na sua dimensão simbólica — parece ter esquecido essa outra herança, plural e fascinante, que passa por autores como Orson Welles, Joseph L. Mankiewicz ou Peter Brook… Como se as especificidades do texto e do drama fossem secundárias face ao novo-riquismo do look.

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