joao lopes
10 Nov 2016 19:25
O novo filme "O Primeiro Encontro" (título original: "Arrival") traz a assinatura de Denis Villeneuve, um talentoso canadiano que, através de títulos como "Raptadas" (2013), "O Homem Duplicado" (2013) e "Sicario" (2015), se impôs na dinâmica de Hollywood — de tal modo que o seu próximo projecto será uma sequela de "Blade Runner", intitulada "Blade Runner 2049".
Vale a pena lembrar esta conjuntura de produção, quanto mais não seja porque "O Primeiro Encontro" será, por certo, muitas vezes comparado com uma referência emblemática do cinema americano: "Encontros Imediatos do Terceiro Grau" (1977), de Steven Spielberg — também desta vez, trata-se de encenar um encontro com extra-terrestes que está para além do mero avistar de um ovni: é da comunicação que se trata.
Comunicar, justamente, é o desafio enfrentado pela Dra. Louise Banks, a especialista em línguas magnificamente interpretada por Amy Adams. Mais do que saber como são "eles", a sua tarefa consiste em tentar decifrar os sinais que deles emanam, tentando compreender se tais sinais são "coisas" mais ou menos arbitrárias ou se, pelo contrário, produzem sentido(s).
Evitando, como é óbvio, revelar os segredos envolvidos nas peripécias de "O Primeiro Encontro", importa sublinhar o facto de tal processo acabar por superar a mera questão "linguística". Isto porque Banks depara com o mais inesperado: a linguagem dos aliens está para além do nosso conceito de tempo — ou, mais exactamente, pressupõe outras dimensões temporais.
Acima de tudo, Villeneuve consegue criar uma narrativa que, muito para além dos clichés da ficção científica, procura celebrar a intensidade sensorial do próprio espectáculo. E, acima de tudo, a possibilidade de uma crença mística na percepção do mundo — em tempos de tantas dúvidas existenciais, este é um filme que não receia lidar com o fascínio de uma hipótese transcendental.