Christian Bale no papel de Ken Miles — desafiando os limites da velocidade


joao lopes
15 Nov 2019 23:13

Em 1966, surgiu um filme sobre os bastidores das corridas de Fórmula 1 que teve um impacto muito especial nas plateias de todo o mundo: chamava-se "Grande Prémio", tinha assinatura de John Frankenheimer e apresentava um elenco de luxo, incluindo nomes como James Garner, Eva Marie Saint, Yves Montand, Toshiro Mifune e… Françoise Hardy! Seu principal trunfo espectacular e dramático: a amostragem da velocidade dos carros muito para lá das regras comuns das reportagens televisivas.

Até certo ponto, mais de meio século depois, há algo de semelhante em "Le Mans ’66: o Duelo", de James Mangold — a acção, curiosamente, situa-se nesse mesmo ano de 1966, envolvendo a rivalidade das marcas Ford e Ferrari na lendária prova automobilística que são as 24 Horas de Le Mans (o título original é, aliás "Ford v. Ferrari"). O essencial, porém, decorre de outro tipo de demarcação: já não se trata de superar os dispositivos televisivos (hoje em dia hiper-sofisticados no tratamento da Fórmula 1), mas de mostrar que é possível explorar as leis do grande espectáculo, usando efeitos especiais de vanguarda, sem ceder ao maniqueísmo de super-heróis e afins…



Um pouco à maneira de alguns "westerns" clássicos, "Le Mans ’66: o Duelo" centra-se na atribulada relação de amizade de dois homens: Carroll Shelby, o construtor de automóveis que Henry Ford II contrata para construir um carro mais veloz que os Ferrari, e Ken Miles, piloto de comportamento algo anárquico, paradoxalmente rigoroso no domínio dos bólides que lhe são entregues.

Interpretados, respectivamente, por Matt Damon e Christian Bale, Shelby e Miles definem uma aliança que, de uma maneira ou de outra, contamina todos os que com eles se relacionam, desde a mulher de Miles (Caitriona Balfe) até ao próprio herdeiro de Ford (Tracy Letts). Dito de outro modo: este é também um objecto que sabe construir a sua teia dramática através de um investimento real, não apenas nos "heróis", mas também nas personagens secundárias.

O espectador pode até conhecer, ou querer conhecer antecipadamente, o desenlace da corrida de Le Mans [1966], mas isso não retira ao filme a sua peculiar energia e capacidade de envolvimento emocional. A provar que a tradição de Hollywood ainda é o que era.

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