joao lopes
5 Mai 2017 3:51
O passado imperial de vários nações europeias (incluindo Portugal) tem servido de base para as mais diversas ficções, quase sempre habitadas por uma contradição filosófica e ética. A saber: que civilização impusemos às civilizações que descobrimos? Ou ainda: será que as reconhecemos como civilizações, ou limitámo-nos a tratá-las como fenómenos mais ou menos pitorescos e inferiores?
"A Cidade Perdida de Z" é um filme que nos confronta com esse imaginário contraditório, tendo no seu centro uma personagem verídica, realmente fascinante: Percy Fawcett, oficial do exército britânico que, na sequência de uma missão cartográfica na Bolívia, no começo do séc. XX, começa a tentar provar a hipótese — ou será uma utopia? — da existência de uma civilização perdida que ele decide identificar como se fosse o elo mais extremo da humanidade: "Z".
O trabalho do realizador James Gray organiza-se de forma mais ou menos convencional, como um "(tele)filme biográfico" em que se procura ilustrar um "tema" com determinadas ressonâncias histórias. Fá-lo, em qualquer caso, com a competência suficiente para expor a tensão entre o humanismo cândido de Fawcett (interpretado por um Charlie Hunnman pouco comunicativo) e a hipocrisia ideológica que conduz as regras imperiais.
Estamos, afinal, perante um filme francamente fora de moda, de vocação espectacular bem diferente da que tem marcado tantos "blockbusters" mais ou menos formatados. Elemento fundamental é a direcção fotográfica de Darius Khondji, explorando as cores densas e a luz difusa da floresta, enfim, discutindo a própria noção de natureza. Para os resultados foi determinante uma opção que Khondji e Gray assumiram até às últimas consequências: rodar, não em digital, mas com película de 35mm.