Kyle Catlett na personagem de T. S. Spivet — uma belíssima fábula infantil


joao lopes
30 Ago 2015 1:12

Uma das melhores estreias do Verão cinematográfico é um filme que nos chega com dois anos de atraso: "O Jovem Prodígio T. S. Spivet", de Jean-Pierre Jeunet, baseado no "best-seller" de Reif Larsen. É pena, quanto mais não seja porque a actualidade ainda é um valor… Em qualquer caso, o fenómeno não se explica por dados meramente internos — o filme surgiu nos ecrãs franceses em Outubro de 2013 e, em boa verdade, desde então, tem estado condicionado pelo conflito entre Jeunet e o seu distribuidor americano, a Weinstein Company (que só o estreou a 31 de Julho de… 2015!).

Dito isto, importa sublinhar o essencial. A saber: numa altura em que continuam a proliferar filmes (ditos) juvenis, aplicando até à banalidade os (chamados) efeitos especiais, o trabalho de Jeunet envolve uma simples e, afinal, muito pedagógica lição narrativa & cinematográfica — esta é, de facto, uma belíssima fábula infantil que, além do mais, sabe aplicar os mais modernos recursos técnicos, não como um fim em si mesmo, antes como um instrumento de criação de uma atmosfera do mais depurado encantamento.




No centro desta viagem, de Montana até Washington, está o pequeno T. S. Spivet, um rapaz de 10 anos que possui dotes invulgares de investigador e inventor. Quando uma das suas invenções (uma "máquina de movimento perpétuo") ganha um prémio, dois problemas surgem: primeiro, como chegar do rancho dos pais até ao Instituto Smithsonian, em Washington?; depois, como lidar com o facto de aqueles que o premiaram terem assumido que estavam a distinguir um adulto?…

Executado com apaixonado rigor, desde a concepção cenográfica até à direcção de actores (Kyle Catlett, o intérprete de Spivet, é um caso muito sério de talento), "O Jovem prodígio T. S. Spivet" recorda-nos, além do mais, que a vanguarda industrial do cinema não pertence apenas aos americanos. Esta produção de raiz francesa (feita em colaboração com o Canadá) ilustra também um facto tantas vezes esquecido ou menosprezado: continuam a existir na Europa projectos e ideias criativas capazes de celebrar o cinema como grande espectáculo — já agora, lembremos que Jeunet é também o cineasta que, em 2001, assinou "O Fabuloso Destino de Amélie".

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