joao lopes
19 Jul 2014 2:13
Com filmes muito conseguidos e outros nem por isso… Terry Gilliam é sempre um cineasta interessante. Dir-se-ia que o seu cinema vai construindo mundos mais ou menos artificiosos que, em boa verdade, por vias também mais ou menos simbólicas, remetem para o nosso aqui e agora. Exemplos possíveis? Os seus títulos mais famosos: "Brazil" (1985) e "12 Macacos" (1995).
O mínimo que se pode dizer de "O Teorema Zero" é que não põe em causa os pergaminhos de Gilliam (um dos elementos dos clássicos Monty Python que tem seguido uma carreira mais especificamente cinematográfica), confirmando-o como um inventor de ficções que integram as perplexidades e medos do nosso presente.
Dito de outro modo, "O Teorema Zero" narra a aventura surreal de Qohen Leth, especialista na descodificação dos mais bizarros enigmas informáticos, a viver numa sociedade que, através dos mais elaborados e "suaves" mecanismos de controle, refaz a utopia negativa de "1984", de George Orwell.
Interpretado pelo magnífico Christoph Waltz, superando qualquer cliché mais ou menos fantástico, Leth vive na ânsia de encontrar o caminho para decifrar "o sentido da vida". O certo é que, mesmo submergido num espaço/tempo feito dos elementos mais bizarros, as suas experiências — nomeadamente com os computadores e todas as "redes" de comunicação ao seu dispor — se vão confundido com muitas dinâmicas deste nosso séc. XXI.
É essa, afinal, a arte de Gilliam: mostrar-nos que, mesmo quando nos projecta numa espécie de vertigem cenográfica, os seus temas estão visceralmente enraizados na sua/nossa contemporaneidade. Em relação a outros momentos menos felizes da obra de Gilliam (penso, em particular, em "Delírio em Las Vegas", de 1998), "O Teorema Zero" possui a enorme vantagem de não confundir especulação visual com consistência narrativa, sendo servido por um sólido trabalho de argumento — Pat Rushin, professor de escrita criativa na Universidade Central da Florida, é o seu autor.