Oscar Isaac e Domnhall Gleeson: uma história de homens e mulheres/robot


joao lopes
23 Abr 2015 23:48

Um lugar-comum persistente (não poucas vezes favorecido por um jornalismo simplista e sem memória) faz com que o cinema de "efeitos especiais" seja considerado o palco privilegiado dos super-heróis. Enfim, mesmo não discutindo a visão redutora de tal classificação, importa sublinhar que há muitos filmes que aproveitam os mais sofisticados recursos tecnológicos de modo bem diverso.

Assim acontece no magnífico "Ex Machina", o filme que marca a estreia na realização do escritor e argumentista inglês Alex Garland (foi ele que escreveu o romance "A Praia", adaptado por Danny Boyle em 2000). De facto, em particular a figuração do robot que dá pelo nome de "Ava" (Alicia Vikander), resulta de uma sábia aplicação de recursos de figuração que, por assim dizer, rasuram a fronteira entre homem e máquina.
A temática fundamental do filme não é, em rigor, a coexistência entre os seres humanos e os robots, mas sim algo que corresponde, por assim dizer, a uma segunda fase desse processo. A saber: até que ponto a inteligência artificial "instalada" nos robots faz com que estes desenvolvam relações que os levem a compreender as diferenças (mentais, emocionais, etc.) dos próprios seres humanos.
E com uma derivação que está longe de ser secundária, como rapidamente perceberá o incauto Caleb (Domnhall Gleeson), convocando pelo seu patrão Nathan (Oscar Isaac) para estudar, precisamente, o comportamento de "Ava". Que é como quem diz: de um lado está o mundo masculino, do outro a zona asséptica (ou talvez não…) das mulheres/robot.
Acima de tudo, Garland consegue colocar em cena uma crescente sensualidade, com tanto de utópico como de ameaçador, afinal sugerindo que este futuro de robots "demasiado" inteligentes envolve uma redefinição da coexistência masculino/feminino. Nesta perspectiva, "Ex Machina" não é tanto um objecto futurista ou de "antecipação", mas sim uma parábola sobre o tema eterno do conhecimento como forma de poder.

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