crítica
O grau zero das tartarugas
Agora com produção de Michael Bay, as Tartarugas Ninja parecem-se cada vez mais com uma variação monótona dos mais medíocres jogos de video — o cinema está ausente destas paragens.
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3 Jun 2016 0:39
Algo vai mal no mundo dos heróis, super-heróis, efeitos especiais… ou como lhes quiserem chamar… Digamos que algo vai mal no mundo das tartarugas, de tal modo que o novo "Tartarugas Ninja Heróis Mutantes: O Romper das Sombras" já não se pode definir exactamente como um filme, apenas como um produto de marketing.
Resumir um filme destes pela sua sinopse — "o-mundo-está-ameaçado-e-só-as-tartarugas-o-podem-salvar" — é uma tarefa ainda mais equívoca do que o habitual… Afinal de contas, não adianta muito dizer que "O Mundo a Seus Pés" (1941) é a história de um homem que, ao morrer, pronuncia a palavra Rosebud… Digamos, para simplificar, que a estética mais monótona dos mais medíocres jogos de video triunfou por inteiro.
Neste sexto título da "franchise" das Tartarugas Ninja, os actores de carne e osso coexistem com os heróis fabricados a partir do processo de "performance capture" (com corpos humanos filmados previamente e transfigurados em figuras digitais), numa dialéctica (?) que já não corresponde a nada que não seja a repetição exaustiva do que está no trailer — aliás, este é um daqueles casos em que se sente que o filme mais não é que a dilatação (?) do trailer…
As semelhanças com o universo repetitivo e ruidoso da série "Transformers" estão longe de ser um acidente. De facto, a produção da responsabilidade de Michael Bay (o mesmo de "Transformers") impôs um conceito (?) de acumulação arbitrária de efeitos mais ou menos bombásticos, sendo irrelevante espereramos que a nobre arte narrativa de Hollwyood encontre, aqui, algum eco… Resta saber se quem faz este cinema de grau zero ainda tem alguma noção do que seja uma narrativa. Noção e gosto.