joao lopes
17 Nov 2016 23:58
É, no mínimo, desconcertante descobrir alguém como Eddie Redmayne — Oscar de melhor actor por "A Teoria de Tudo" (2014) — a passar um filme inteiro a repetir os mesmos tiques de pose, olhar e movimentos da boca. Acontece em "Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los". Em boa verdade, estamos apenas perante um sintoma: este é um cinema em que os actores foram reduzidos a elementos cenográficos.
Há outra maneira de dizer isto. A saber: quando se fizer a história do "fantástico" das primeiras décadas do século XXI, será preciso encarar a escritora J. K. Rowling como uma personalidade fundamental para a consagração de um cinema que existe mais através do seu aparato visual do que de qualquer método consistente de contar histórias — o seu império literário/cinematográfico induz, afinal, o esvaziamento da mais nobre vocação dos filmes.
Que são, então, estes "Monstros Fantásticos…"? Rowling estreia-se como argumentista (?) para transpor o seu livro centrado na figura de Newt Scamander (Redmayne) e nas suas atribuladas viagens no sentido de criar boas formas de convivência entre feiticeiros e humanos — na prática, a exposição inicial dessa evocação, situada num tempo pré-Harry Potter, vai cedendo a um fogo de artifício que, na meia hora final, já perdeu qualquer lógica narrativa.
Este filme realizado por David Yates (inglês que assinou vários episódios de Harry Potter) poderá ser o primeiro de três — ou mesmo de cinco. Quer isto dizer que o projecto é, antes do mais, sustentado por uma estratégia de marketing apostada em ocupar, ciclicamente, ao longo de vários anos, o mercado. Em última instância, é bem provável que a equipa que concebeu os cenários urbanos destes "Monstros Fantásticos…" venha a ganhar o Oscar de melhores efeitos visuais — é pena que a qualidade técnica do seu trabalho não produza, por si só, uma ideia de cinema.