joao lopes
6 Jan 2018 23:28
Não é obrigatório, mas antes de ver um filme como "Um Desastre de Artista", cujo tema central é a produção de um outro filme, "The Room" (2003), talvez seja útil conhecer alguns dos respectivos fragmentos [YouTube].
Acontece que aquilo que vemos é tão bizarro e desconcertante que podemos… não acreditar. Pois bem, conhecendo um pouco de "The Room", veremos que, pelo menos até certo ponto, "Um Desastre de Artista" é uma descrição genuinamente realista.
Digamos, para simplificar, que "The Room" é produto da imaginação (ou da falta de imaginação, dirão os mais cruéis) de Tommy Wiseau, personagem francamente inclassificável: actor, figura errática dos bastidores de Hollywood, empenhado em afirmar-se no meio do cinema. Não conseguido ser contratado, decide fazer o seu próprio filme — com resultados… desastrosos.
Como abordar tão insólito universo? A resposta de James Franco — intérprete de Wiseau e também produtor/realizador de "Um Desastre de Artista" — decorre de uma visão muito directa, dir-se-ia muito cândida, da odisseia surreal de Wiseau. A tentação seria, talvez, sublinhar a dimensão caricatural de tudo o que acontece; mas Franco compreende que tal dimensão já está integrada no próprio comportamento da sua personagem. Trata-se, por isso, de seguir com toda a lógica a sua falta de… lógica.
O resultado é um filme de tocante familiaridade (aliás, de alguma maneira, reforçada pelo facto de Greg Sestero, vedeta de "The Room", ser interpretado por Dave Franco, irmão de James). De tal modo que as fragilidades, para não dizer a incompetência, do universo criativo (?) de Wiseau se transfiguram num hino ao gosto do cinema, ao prazer de fazer cinema — nos tempos que correm, essa é uma mensagem preciosa.