12 Jul 2019 17:12
O subtítulo português — "A Música na Veias" — talvez tenha algo de simplista e redundante. Em qualquer caso, não deixa de rimar com o carácter visceral do original, "Her Smell" (à letra: ‘O cheiro dela’). Estamos, de facto, perante uma saga vivida com sangue, suor e lágrimas (se é que podemos arriscar tão óbvia apropriação de uma frase mítica). Enfim, digamos para simplificar que Becky Something, uma cantora punk em processo de acelerada decomposição emocional, é uma daquelas personagens realmente maior que a vida.
Escusado será dizer que o filme não seria o que é não fosse a admirável composição de Becky por Elisabeth Moss. Os seus trabalhos mais conhecidos, especialmente nas séries televisivas "Mad Men" e "A História de uma Serva", estão longe de sugerir todos os estados de alma — aliás, vibrações do corpo — que aqui encontramos. Moss a caminho de uma nomeação para o Oscar?…
Escrito e realizado por Alex Ross Perry, "Her Smell" terá sido, de alguma maneira, inspirado em episódios mais convulsivos da vida de Courtney Love… Talvez. É essa, pelo menos, a convicção de alguma imprensa americana. Em qualquer caso, as suas singularidades decorrem da capacidade de começar por um cliché ("estrela-de-rock-decadente") para criar uma teia de situações trabalhadas através de uma sofisticada teatralidade — o filme tem apenas cinco cenas e vive, antes de tudo o mais, da densidade da sua inesperada e perturbante duração.
Pensando em "Assim Nasce uma Estrela", será que estamos a assistir a um crescente envolvimento do drama psicológico com as matérias musicais? Não creio. Mas também não me parece que essa seja uma questão vital. O que mais conta é o retorno a um registo dramático que não abdica da irredutibilidade das suas personagens e, por isso mesmo, do talento dos seus actores. Elisabeth Moss e Alex Ross Perry acreditam, afinal, no relançamento da mais nobre tradição narrativa de Hollywood.