Emma Stone e Ryan Gosling, protagonistas de um fenómeno musical de culto


joao lopes
25 Jan 2017 23:24

Evitemos os equívocos do primarismo mediático: é verdade que "La La Land" conseguiu a proeza de acumular nada mais nada menos que 14 nomeações para os Oscars (a atribuir a 26 de Fevereiro), mas importa não alimentar o infantilismo segundo o qual tal proeza "obriga" a que encaremos o filme escrito e dirigido por Damien Chazelle como um objecto em relação ao qual devemos estar euforicamente "a favor" ou dramaticamente "contra" — pensar os filmes, com todas as diferenças que os pensamentos podem envolver, é algo bem diferente.

Lembremos, por isso, que mesmo os menos entusiastas (é o meu caso), não poderão deixar de reconhecer que Chazelle arriscou, colocando a fasquia muito alto. Porquê? Porque fazer um musical em 2016 não é apenas ir contra as modas de super-heróis e afins — é também tentar regressar a um género que, na verdade, objectivamente, há muito desapareceu da produção regular de Hollywood. Convocamos as grandes referências clássicas — Busby BerkeleyFred AstaireGene Kelly, etc., etc., etc. — e a comparação não é fácil.




A comparação não só não é fácil, como parece impossível. As imitações mais ou menos formalistas empreendidas por Chazelle (por exemplo, a cena de abertura, numa auto-estrada, poderá evocar algumas coreografias de "West Side Story") e, sobretudo, a dificuldade de utilizar a câmara de modo a criar o espaço de artifício que parece ser a sua ambição são alguns dos factores que menorizam "La La Land" face às memórias clássicas, em particular da produção da MGM dos anos 40/50 liderada pelo grande Arthur Freed.

Além do mais, a versatilidade do par central — Emma Stone/Ryan Gosling — não se estende às tarefas para que são convocados, revelando evidentes limitações no canto e na dança (sobretudo Gosling, a cantar). Seja como for, registemos que o fenómeno de culto que "La La Land" deixa uma hipótese sedutora: a de estarmos a assistir a um relançamento de um género que se tem mantido de forma apenas intermitente na paisagem da produção americana — resta saber que ideias Hollywood terá para que isso aconteça de modo consiste, e consistentemente criativo.

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