Andrew Garfield em


joao lopes
9 Jan 2016 20:00

Lembram-se de "Margin Call" (2011), a excelente realização de J. C. Chandor (entre nós chamada "O Dia Antes do Fim") que fazia a crónica implacável e perturbante do desencadear da crise financeira de 2008? Era um filme, por assim dizer, no coração dessa crise, colocando em cena protagonistas de um processo de bastidores que, no princípio, parecia existir apenas nos ecrãs dos computadores… "99 Casas" fala-nos do mesmo, mas agora observando os dramas de gente anónima.

Estamos, assim, perante a saga cruel de um homem (Michael Shannon, sério candidato a um Oscar de melhor actor secundário) que, trabalhando no sector imobiliário, está basicamente ao serviço dos interesses da banca. O seu dia a dia é mesmo preenchido com processos de despejo de famílias que não conseguiram cumprir as obrigações dos empréstimos que contraíram para construir ou adquirir as suas casas.




Digamos que essa rotina brutal se transfigura quando o chefe de uma das famílias desalojadas (Andrew Garfield, jovem talentoso que sabe mais, muito mais, do que vestir-se com o fato de Homem-Aranha) começa a trabalhar para aquele que conduz os despejos, tentando desse modo saldar a sua dívida… É uma situação tão paradoxal quanto perversa que, em última instância, vai conduzir a uma interrogação moral do comportamento de todos.

Filmado com a contundência de um realismo que não cede a estereótipos, sejam eles dramáticos ou morais, "99 Casas" ilustra mais um brilhante retorno da produção americana a uma tradição de cinema social em cuja genealogia podemos encontrar autores tão marcantes como John Ford (1894-1973) ou Frank Capra (1897-1991) — o seu realizador, Ramin Bahrani, americano de ascendência iraniana, afirma-se como um legítimo herdeiro dessa tradição.

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