joao lopes
4 Set 2021 23:36
A produção francesa continua a revelar a capacidade invulgar de congregar experiências das mais variadas origens e, em particular, de apoiar projectos que, directa ou indirectamente, reflectem memórias de países a cuja história a França está intimamente ligada. É o caso de "Céus do Líbano", longa-metragem de estreia de Chloé Mazlo, francesa de ascendência libanesa.
Eis um filme assombrado pelas memórias da guerra civil no Líbano, em meados da década de 1970. E também um objecto apostado em criar uma espécie de resgate estético das suas memórias traumáticas. A saber: integrar as sugestões realistas q. b., ao mesmo tempo procurando o tom de uma fábula sobre a nostalgia de um romantismo perdido.
O projecto de Mazlo envolve um risco inevitavelmente curioso. Dito de outro modo: "Céus do Líbano" segue a odisseia do seu par central — Alba Rohrwacher e Wajdi Mouhawad — como uma narrativa que oscila entre a crueza dos factos e os artifícios da mise en scène (incluindo animação e fundos artificiais).
Por um lado, a imaginação criativa de Mazlo merece toda a atenção, até porque se trata de respeitar a densidade factual e emocional da história. Por outro lado, deparamos aqui com um "vício" de muito cinema contemporâneo, das mais variadas origens: a certa altura, instala-se a sensação de que as personagens e as suas acções contam menos do que a ostentação do dispositivo formal(ista) que sustenta o filme.