joao lopes
10 Dez 2017 19:40
Efeitos especiais?… Que efeitos especiais? Uma nave vinda de outra galáxia? Um monstro que muda de forma? Importa contrariar essa visão pueril das componentes técnicas de qualquer filme, lembrando, antes de tudo o mais, que os efeitos especiais, além de não serem exclusivo de nenhum género, também não são um fim em si mesmo — antes um instrumento de trabalho.
Pois bem, "Paddington 2" é, por certo, um dos filmes de 2017 a aplicar de forma mais subtil, e também mais espectacular, uma impressionante panóplia de efeitos especiais. Nesta continuação das aventuras do ursinho nascido nos livros de Michael Bond (1926-2017), assistimos a uma proeza realmente especial. A saber: uma elaborada interacção entre Paddington e os humanos, numa dialéctica que nos projecta, afinal, nos maravilhosos domínios da fábula.
Desta vez, Paddington (com a voz do actor Ben Whishaw) está perfeitamente integrado na família Brown, em Londres. Na sua rotina feliz, será confrontado com um livrinho de imagens a três dimensões que guarda um segredo associado a um tesouro… Dito de outro modo: as peripécias inevitavelmente bem humoradas (regressam as lavagens de vidros e as escovas de dentes!) surgem inseridas numa dinâmica narrativa que envolve uma certeira pedagogia moral — para Paddington, a existência individual envolve sempre um caloroso sistema de relações.
Paul King, que já dirigira o anterior "Paddington" (2014), volta a contar com um magnífico elenco, incluindo Sally Hawkins, Hugh Bonneville e Julie Walters, sendo forçoso destacar Hugh Grant no papel do "mau da fita", exibindo uma notável energia burlesca — afinal de contas, este filme automaticamente associado a Hollywood e à sua máquina global de distribuição é, no essencial, um genuíno produto da indústria britânica.