1984 — Harry Dean Stanton deambulando em paisagens americanas


joao lopes
20 Fev 2017 0:42

Não é uma novidade — longe disso. Mas não deixa de ser um especialíssimo acontecimento: "Paris, Texas" (1984), de Wim Wenders, está de volta às salas escuras.

Eis um filme que já vimos e revimos nos mais variados circuitos, incluindo, claro, o DVD (e que, aqui mesmo, já foi objecto de evocação na nossa secção de ‘Memória’). O certo é que o seu encanto formal e delicadeza emocional há muito superaram quaisquer barreiras de época, tendências ou moda.

Nastassja Kinski e Harry Dean Stanton são as figuras nucleares de um drama familiar em que a própria possibilidade da família funcionar constitui uma decisiva linha de força. Dir-se-ia que Wenders conseguiu construir uma história visceralmente contemporânea (cuja vibração afectiva, mais de 30 anos depois, se mantém intacta), ao mesmo tempo convocando os valores e matrizes do melodrama clássico.
Tudo isso acontece, afinal, através do cruzamento de um olhar europeu com lugares e mitologias made in USA, em particular no subtil aproveitamento das componentes paisagísticas que não pode ser dissociado do labor de Wenders como fotógrafo. No limite, este é um filme sobre os lugares em que vivemos e modo como a eles pertencemos — ou deles nos afastamos.

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