crítica
Os corpos de que se faz a história
Abdellatif Kechiche, o cineasta de "A Vida de Adèle", reaparece com o magnífico "Mektoub, Meu Amor" — um retrato da juventude de meados da década de 90, realizado com um realismo à flor da pele.
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3 Fev 2019 23:09
Amin (Shaïn Boumedine) é um jovem estudante parisiense que se dedica à fotografia e cinema, ambicionando transformar-se num cineasta. Durante as férias de Verão, ruma ao sul de França para estar com a família e reencontrar os amigos de infância — o restaurante dos pais, de origem tunisina, é o símbolo de uma existência em que ele reconhece as suas raízes, ao mesmo tempo sentindo que o destino o encaminhará noutras direcções…
Destino, justamente, é a palavra chave. Ou seja, a palavra mektoub, sinal dos cruzamentos ambíguos de desejos mais ou menos utópicos com uma realidade que os ignora. Podemos definir o novo filme de Abdellatif Kechiche, "Mektoub, Meu Amor", através dessa perturbação, de uma só vez mental e sensual, com que Amin enfrenta os enigmas do seu destino — e não é por acaso, obviamente, que muito dessa perturbação decorre do maravilhamento com que descobre as atribulações do amor e do sexo.
Vale a pena recordar que Kechiche (58 anos) é um cineasta francês de origem tunisina — saíu da Tunísia aos 6 anos, mudando-se com os pais para o sul de França, mais precisamente para Nice. Daí a considerarmos "Mektoub, Meu Amor" um objecto auto-biográfico vai um passo que, apesar de tudo, seria precipitado.