Adèle Haenel e Guillaume Canet sob a direcção de André Téchiné — do


joao lopes
28 Jun 2015 15:32

Estranhamente, nos últimos anos, André Téchiné, um dos dois ou três nomes fulcrais na história do cinema francês pós-Nova Vaga, quase desapareceu do mercado português… "Les Témoins" (2007) e "La Fille du RER" (2009), dois retratos muito íntimos de convulsões da sociedade francesa (o primeiro sobre a eclosão da sida, o segundo inspirando-se num fait divers de grande impacto mediático), nem sequer estrearam.

Enfim, aí está "O Homem Demasiado Amado", revelado há mais de um ano no Festival de Cannes de 2014 (extra-competição). O menos que se pode dizer é que há sempre qualquer coisa que tem a ver com a mais pura sideração — Téchiné distingue-se pela sua fidelidade a um cinema atento às razões irrazoáveis dos movimentos amorosos, nessa medida mantendo-se disponível para as singularidades dos seus actores e, em particular, actrizes.



Figura fetiche do universo de Téchiné — desde o sublime "Hôtel des Amériques/O Segredo do Amor" (1981) —, Catherine Deneuve regressa em "O Homem Demasiado Amado", assumindo a figura de Renée le Roux, administradora de um casino da Côte d’Azur que, na segunda metade dos anos 70, surgiu envolvida num conflito que desembocou no desaparecimento da sua filha, Agnès, interpretada pela admirável Adèle Haenel. Renée e Agnès definem com Maurice Agnelet (Guillaume Canet) um triângulo insólito: ele é o "homem demasiado amado" que, na sua condição de conselheiro de Renée, acaba por ser o principal suspeito do desaparecimento (assassinato?…) de Agnès.

Téchiné baseia-se em factos verídicos (o "affaire Le Roux" marcou várias décadas da história social francesa) para elaborar um labirinto de factos e pulsões, máscaras e revelações em que, em última instância, se depara a singularidade irredutível e inconsolável do amor. Este é um cinema sem heróis nem super-heróis, apenas atento aos enigmas das relações humanas — esse apenas corresponde, afinal, ao melhor filme do Verão.

+ críticas