Tilda Swinton e Tom Hiddleston: vampiros


joao lopes
14 Jun 2014 23:42

Podemos admitir que não seria fácil revisitar o género de vampiros, de modo a acrescentar-lhe alguma vida (ou morte, se for caso disso…). De facto, o modelo há muito deixou de ter uma produção regular — nomeadamente no contexto da produção inglesa — e nem sequer se pode dizer que protagonize um intenso fenómeno de culto.

Daí que a versão proposta por Jim Jarmusch surpreenda, pela positiva. Em "Só os Amantes Sobrevivem", o realizador mostra-se menos interessado em "citar" os clássicos e mais em experimentar os limites do próprio género. De tal modo que o seu par central — interpretado pelos magníficos Tom Hiddleston e Tilda Swinton — se distingue pela sua vida de reclusão e, por assim dizer, de apoio à causa do rock’n’roll…
Há, evidentemente, em tudo isto uma sugestão metafórica que, em qualquer caso, Jarmusch tem o bom senso de tratar de forma discreta, sem cair em "simbolismos" mais ou menos panfletários. Assim, tudo se passa numa Detroit com claros sinais de decadência, emblema de uma América perdida no labirinto da sua própria mitologia, de tal modo que Hiddleston se refere aos humanos como os "zombies".
Na evolução de Jarmusch, "Só os Amantes Sobrevivem" corresponde, afinal, a uma lógica obsessiva. Se pensarmos nas suas variações sobre a crónica social ("Para Além do Paraíso", 1984), o "western" ("Homem Morto", 1995) ou o policial ("Ghost Dog", 1999), descortinamos uma clara linha temática e estética — para Jarmusch, trata-se de recuperar alguns modelos clássicos para os reconverter através de uma metódica distanciação e, sobretudo, de uma elaborada ironia.

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