7 Jan 2021 22:28
É caso para dizer: o cinema da Coreia do Sul não se esgota no impacto de "Parasitas" — vencedor do Festival de Cannes e dos Óscares referentes a 2019 — nem na obra do seu realizador, Bong Joon Ho. Nada contra esse filme, entenda-se: além do mais, nomeadamente em Hollywood, o seu sucesso abriu importantes formas de divulgação com efeitos positivos no chamado cinema internacional. Seja como for, a questão, agora, é diferente. Ou seja, a estreia de "A Mulher que Fugiu", título que valeu a outro autor coreano, Hong Sang-soo, o Urso de Prata (melhor realização) no Festival de Berlim de 2020 (o último grande certame realizado antes da pandemia).
De Hong Sang-soo, tinhamos visto nas salas portuguesas, por exemplo, "O Dia Seguinte" (2017), exercício de observação do quotidiano, tanto mais envolvente quanto sabia expor as peculiaridades de um espaço profissional de trabalho. Algo de semelhante se poderá dizer a propósito do novo filme, construído a partir de uma metódica explanação de três momentos protagonizadas pela mesma mulher, Gam-hee, interpretada por Kim Min-hee, presença fetiche na obra de Hong Sang-soo.
Em termos esquemáticos, esta é a crónica dos encontros de Gam-hee com três mulheres que, por diversas razões, estão envolvidas na sua história pessoal. Às singularidades dessas relações soma-se o subtil sistema de ecos que o filme vai instalando — por exemplo, o facto de Gam-hee repetir que, em cinco anos de casamento, nunca passou um dia separada do marido; ou ainda a pontuação da acção por algum ecrã (caseiro ou de uma sala de cinema).