Revisitando os tempos atribulados da Argélia, em 1954, pouco antes da independência


joao lopes
9 Ago 2015 4:39

Eis um filme atípico que, infelizmente, corre o risco de passar despercebido no meio de uma paisagem de Verão dominada pelas campanhas mais agressivas (de filmes "bons" ou "maus", não é isso que está em causa).

De facto, "Longe dos Homens" propõe um exercício de revisitação da história que, para além da complexidade factual, envolve a necessidade de superar qualquer cliché político ou moral.

O realizador David Oelhoffen inspirou-se num conto de Albert Camus (1913-1960), "L’Hôte", para contar uma história da Argélia de 1954, numa altura em que se agudizam os conflitos com a França que conduziriam à independência argelina em 1962.

É uma história centrada em dois homens reunidos por circunstâncias mais ou menos fortuitas: um professor de francês que dá aulas a crianças numa escola perdida no meio de uma paisagem desértica; e um prisioneiro árabe que esse professor é encarregado de devolver às autoridades.


Rapidamente enredados nos conflitos que começam a proliferar, os dois homens vão, afinal, viver um processo de mútua e dramática descoberta. De tal modo que a escolha do lado "bom", seja ele qual for, se pode revelar um equívoco que só pode desembocar na perda de dignidade.
Acima de tudo, Oelhoffen conseguiu fazer um filme sobre a não coincidência dos destinos dos homens com os parâmetros mais maniqueístas da política (ou da ideologia que a pode sustentar). E contou com dois actores brilhantes: Viggo Mortensen, no papel do professor, e Reda Kateb (que vimos recentemente em "O Astrágalo"), assumindo a personagem do prisioneiro.

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