24 Jul 2015 21:20
Uma das maiores crueldades de alguma comunicação "social" contemporânea consiste em tratar as vidas dos seus protagonistas como se fossem relatos mais ou menos pitorescos de alegrias e sofrimentos que parecem ter acontecido apenas para ser espectáculo… A genial Amy Winehouse foi uma dessas figuras compulsivas e o menos que se pode dizer de um documentário como "Amy" é que a resgata dos lugares-comuns jornalísticos, para repor a complexidade do seu ser.
O filme assinado por Asif Kapadia (que, em 2010, realizara "Senna", sobre Ayrton Senna) começa por recusar encerrar Winehouse em qualquer formato, seja ele psicológico ou mediático, artístico ou simbólico. Através de materiais de arquivo francamente invulgares, Kapadia consegue traçar o caminho labiríntico e trágico de uma jovem (morreu a 23 de Julho de 2011, contava 27 anos) marcada pela dependência do álcool e outras drogas, senhora de uma paisagem criativa absolutamente fora de série.
Nesta perspectiva, importa destacar a pluralidade dos elementos que Kapadia reuniu numa montagem especialmente subtil. Por um lado, deparamos com registos de performances muito pouco vistas ou que conhecíamos de forma incompleta (observem-se, por exemplo, os tocantes momentos antes da gravação com Tony Bennett); por outro lado, as fotos e reportagens televisivas que foram utilizadas de forma especulativa e "voyeurista" pelo jornalismo mais irresponsável surgem, agora, no seu devido contexto, mostrando que não se trata apenas das imagens e sons que se escolhem, mas do modo de os tratar.