joao lopes
8 Jul 2018 0:57
Um Verão de super-heróis e alguns desenhos animados?… Talvez, por que não? Em todo o caso, não confundamos o ruído das promoções com a pluralidade do mercado. Lembremos, sobretudo, que há mais mundos para além dos filmes ("bons" ou "maus") que têm direito a spots publicitários mais ou menos agitados nos tempos nobres dos canais de televisão.
E sublinhemos a estreia de um filme importantíssimo, mesmo se há nela uma perversa sensação de reposição… É verdade: "Contos Cruéis da Juventude", uma das primeiras longas-metragens do japonês Nagisa Oshima (1932-2013), com data de produção de 1960, continuava por lançar no circuito comercial português — ela aí está, para mais numa cópia restaurada.
Esta é a história de Kyoshi (Yusuke Kawazu) que seduz a adolescente Makoto (Miyuki Kuwanu), com ela se envolvendo numa série de golpes para roubar homens mais velhos, numa vertigem que (lhes) vai expor duas componentes essenciais, estranhamente cúmplices: a violência com que consumam os seus roubos e os actos sexuais que os aproximam, tanto quanto parecem intensificar a sua solidão…
Como outros cineastas das chamadas "novas vagas" (França, Brasil, Portugal, etc.), Oshima procurava encontrar novos padrões de linguagem que pudessem, não apenas contrariar as heranças mais académicas, mas também abrir diferentes modos de representação e pensamento face às transformações geracionais, sociais e políticas do seu próprio país.
Importa lembrar também que "Contos Cruéis da Juventude" surge inserido num panorama de clássicos do cinema japonês que continua a decorrer em Lisboa e Porto. Foi também integrado neste evento que surgiu a cópia restaurada de "Primavera Tardia" (1949), de Yasujiro Ozu — de Ozu a Oshima, é a fascinante riqueza do Japão cinematográfico que podemos (re)descobrir.