joao lopes
7 Mai 2016 1:01
Filme paradoxal, sem dúvida, este "Axilas". Desde logo, porque sabemos que será, para sempre, um objecto marcado por uma ausência: José Fonseca e Costa faleceu em Novembro de 2015 e já não o pôde concluir — num trabalho de invulgar paciência e dedicação, Paulo MilHomens rodou as cenas que faltavam e organizou a montagem.
Depois, porque mesmo reconhecendo que "Axilas" nem sempre encontra o equilíbrio necessário entre um dramatismo demasiado "simbólico" e uma ironia algo bizarra, à beira do burlesco, talvez seja inevitável reconhecer também que estamos perante um objecto eminentemente pessoal — dir-se-ia que Fonseca e Costa quis sistematizar o tema (nuclear no seu universo) da relação entre o desejo masculino e o carácter insondável das personagens femininas.
Nesta perspectiva, creio que se pode considerar que "Axilas", baseado num conto de Rubem Fonseca, estabelece uma relação muito directa com "Os Cornos de Cronos" (1991). Em ambos encontramos uma personagem masculina à deriva que enfrenta o enigma do universo feminino num misto de atracção e distanciação.
A personagem de Lázaro de Jesus, a que Pedro Lacerda procura emprestar uma calculada ambivalência dramática e moral, surge, assim, como uma espécie de herói sem heroísmo, uma marioneta da sua própria imaginação. Com todas as suas fragilidades (por exemplo, na desigual performance dos elementos do elenco), "Axilas" fica como um testamento imperfeito de um cineasta que sempre perseguiu uma ideia de perfeição.