joao lopes
19 Jun 2014 2:55
Que está a acontecer no cinema, não apenas para jovens (diz-se que é a maioria do que, hoje em dia, se produz), mas sobretudo com personagens jovens? As respostas são, por certo, múltiplas e multifacetadas. Mas talvez um filme como "A Culpa É das Estrelas" possa ajudar-nos a, pelo menos, descrever alguns sintomas.
A história é simples, directa e emocionalmente tocante — ponto 1: Hazel Grace e Augustus sofrem, ambos, de cancro; ponto 2: apaixonam-se. Mas a história de um filme (seja ela qual for) é sempre insuficiente para compreendermos a sua dinâmica. Alguém confunde "O Rei dos Reis" (Nicholas Ray, 1961) com "A Paixão de Cristo" (Mel Gibson, 2004) — claro que não e, no entanto, contam a mesmíssima história…
É interessante observar que "A Culpa É das Estrelas" dispensa todas os temas e conotações ligados a "super-heróis" e outras derivações da BD que, de uma maneira ou de outra, se têm colado ao imaginário juvenil do cinema. De duas maneiras: por um lado, encenando dois seres, escusado será dizê-lo, em relação muito directa com problemas e dramas de um quotidiano com componentes mais ou menos universais; por outro lado, dispensando essa noção simplista e demagógica segundo a qual o cinema para jovens é um cinema de… "efeitos especiais".
Em boa verdade, "A Culpa É das Estrelas" obedece a modelos narrativos de um telefilme convencional, profissionalmente competente, mas também esquemático e mais ou menos previsível na sua preparação de clímaxes emocionais. Ao mesmo tempo, há nele uma aposta numa certa descida à Terra, por certo decorrente do romance de John Green em que se baseia (que não conheço), descida também ela paradoxal. Porquê? Porque estamos perante uma visão existencial que apela a uma certa espiritualidade de raiz cristã, dir-se-ia empenhada em adequar os seus valores ao imaginário de muitos adolescentes contemporâneos.
No fim de contas, é pena que a realização de Josh Boone, sendo tão cândida na sua "contemplação" dos protagonistas, seja também tão académica e convencional nos efeitos narrativos que procura. Além de que Ansel Elgort, no papel de Augustus, releva muitas limitações de composição, enquanto Shailene Woodley, como Hazel Grace, se confirma como uma actriz de notável e precoce maturidade — lembram-se dela, em "Os Descendentes" (Alexander Payne, 2011), fazendo de filha e George Clooney?…