joao lopes
14 Mai 2021 20:43
Convenhamos que o mundo global em que vivemos (ou imaginamos viver) relançou um cliché narrativo: cada história que se conta nasce, ou pode nascer, das "diferenças" culturais entre os protagonistas e o contexto em que evoluem… Dito de outro modo: o "elogio da diferença" está em todos os discursos, dos mais ousados aos mais conformistas.
Convenhamos também que "Minari" merece o benefício da dúvida. Mais do que isso: o filme realizado pelo americano, de ascendência sul-coreana, Lee Isaac Chung nasce de um real e sincero empenho em não reduzir as personagens a estereótipos ou as situações a simbologias esquemáticas — e para tal não será indiferente, por certo, o facto de este ser um projecto que integra algumas componentes autobiográficas.
A história da família da Coreia do Sul que se instala numa zona rural do Arkansas, corria o ano de 1983, com Ronald Reagan na presidência dos EUA, existe, assim, como uma colagem de momentos de delicado realismo. A sua envolvência é tanto maior quanto tudo decorre, não de abstracções "temáticas", mas de questões práticas muito simples: como equilibrar o trabalho na fábrica com as tarefas caseiras, onde escavar um poço para ter água para as plantações…
No seu controlado minimalismo, o olhar de Lee Isaac Chung possui uma crença fundamental: são os actores (entenda-se: as personagens) que definem a ambiência de cada cena. E todos se distinguem pela singularidade da sua presença, a começar pelo pequeno Alan Kim, muito longe de qualquer caracterização pitoresca da infância. Sem esquecer, claro, os intérpretes dos pais, Han Ye-ri e Steven Yeun (nosso conhecido de "The Walking Dead"), e a veterana Yuh-Jung Youn, distinguida com o Oscar de melhor actriz secundária.