Alice Albergaria Borges em


joao lopes
15 Mar 2018 22:35

Colo… Bela palavra para título de um filme. Na verdade, não há nenhuma justifica directa para a sua aplicação, mas "Colo", de Teresa Villaverde, é uma história de muitos desamparos, povoada de personagens que, conscientemente ou não, procuram o calor e a protecção de alguém — é um filme de muitas solidões à procura de outras solidões com que possam comunicar.

No Interior da produção portuguesa, Villaverde é, afinal, uma das criadoras que mais longe tem levado um sistemático desejo realista. Quando pensamos em títulos como "Os Mutantes" (1998), "Transe" (2006) ou "Cisne" (2011), deparamos com essa obsessiva colagem aos elementos do quotidiano, sem que, em qualquer caso, tal atitude desemboque no maniqueísmo naturalista de muitas linguagens televisivas.
Assim acontece em "Colo". De tal modo que penetramos nos espaços íntimos de uma família atravessada pelos mais diversos factores de instabilidade — desde a filha (Alice Albergaria Borges) que parece mais próxima do seu passarinho que de qualquer outro ser vivo, até aos pais (Beatriz Batarda e João Pedro Vaz), vivendo uma espécie de divórcio emocional que se reflecte nos mais anódinos sinais do dia a dia.
Estamos, enfim, perante uma crónica de um estado de crise e, obviamente não por acaso, o tema da falta de dinheiro é transversal a todas as peripécias da narrativa. "Colo" consegue a proeza de desenhar um retrato muito nosso, das nossas ânsias e silêncios, sem nunca ceder a lugares-comuns sociológicos ou morais. Dito de outro modo: este é um filme que desmente a ideia feita, sobretudo mal feita, segundo a qual o cinema português não sabe abordar o seu próprio presente.

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