joao lopes
29 Mai 2014 0:42
Têm sido frequentemente referidas as semelhanças estruturais de "No Limite do Amanhã" ("Edge of Tomorrow"), o novo filme de Tom Cruise, desta vez contracenando com Emily Blunt, com esse título de culto, lançado em 1993, que é "O Feitiço do Tempo" ("Groundhog Day"), de Harold Ramis, com Bill Murray. Assim é, de facto: em ambos os casos, o protagonista é confrontado com a situação insólita de se descobrir no interior de uma vertigem temporal em que, ciclicamente, a sua existência regressa a um determinado ponto, repetindo-se… com diferenças.
Seja como for, importa referir que "No Limite do Amanhã" surge num contexto completamente diferente, quanto mais não seja porque se trata de explorar os registos espectaculares que têm dominado as superproduções mais ou menos galácticas, mais ou menos centradas em "super-heróis"… Ora, justamente, neste caso deparamos com uma clara demarcação das rotinas de tais objectos, tentando, pelo menos, fazer valer as personagens e as suas relações.
Assim é "No Limite do Amanhã": uma história construída com uma consciência muito clara da sua dinâmica (dramática & espectacular), quase nunca cedendo à facilidade de trocar as suas alternâncias emocionais pela mera exibição de sofisticados recursos técnicos. De tal modo que se pode dizer que, através da sua personagem, Cruise reencontra a energia de alguns heróis clássicos que vivem na errância da sua própria missão.
Vale a pena não esquecer que este é também um filme que nos permite reeencontrar o trabalho de Doug Liman, um dos mais interessantes realizadores americanos revelados na década de 90, através de "Swingers" (1996) e, sobretudo "Go" (1997), uma espécie de "antecipação" de "Magnolia" (P. T. Anderson, 1999) que foi lançado entre nós com o título (desastroso) de "A Vida Começa às 3 da Manhã". Desta vez, com "No Limite do Amanhã", Liman volta a mostrar, pelo menos, que tem um sentido de espectáculo francamente mais elaborado que a maior parte dos cineastas que têm assinado os mais recentes "blockbusters".