Sam Riley e Angelina Jolie: recriando o conto tradicional de Charles Perrault


joao lopes
5 Jun 2014 3:07

Como refazer e, sobretudo, reinventar para o século XXI, o clássico das produções Disney "A Bela Adormecida" (1959)? Se nos ficarmos pelo marketing de "Maléfica", avançaremos com uma resposta muito linear: basta entregar a personagem central a Angelina Jolie e esperar que a sua admirável fotogenia, usando vestes sombrias, faça o resto…

Pois bem, Angelina Jolie é, de facto, magnífica, sabendo criar uma personagem que nasce da iconografia tradicional, mas que, em boa verdade, dela se liberta através de uma pose e um estilo muito pessoais. Seja como for, seria redutor considerar que o filme de Robert Stromberg (um especialista em efeitos visuais, a estrear-se na realização) se esgota na gestão do look da sua estrela.
Acima de tudo, pode dizer-se que triunfa, aqui, uma regra fulcral da história da animação e, genericamente, da fábula cinematográfica. Ou seja: a criação de um universo alternativo é essencial neste registo, mas não dispensa a velha arte de contar histórias. E no caso de Maléfica trata-se, nada mais nada menos, de rediscutir o desenho das fronteiras entre o mundo do Bem e o mundo do Mal.
Para lá de todas as diferenças, encontramos uma ambivalência emocional que não será estranha a uma certa dinâmica do cinema de Tim Burton. Assim, Maléfica, tal como o Rei Stefan (Sharlto Copley), não são personagens definitivamente encerradas num determinado padrão moral. E o mínimo que se pode dizer — sem revelar os twists da própria narrativa — é que o filme está longe de seguir a lógica da produção de 1959 e do próprio conto de Charles Perrault (publicado em 1697).
"Maléfica" é, enfim, uma fábula clássica contada a partir de um outro ponto de vista, ponto de vista a que não é estranha uma discreta reconversão da própria personagem da Princesa Aurora (Elle Fanning). A provar, afinal, que os chamados "blockbusters" de Verão não têm que ficar dependentes da mera gestão tecnológica e só ganham com a disponibilidade criativa para repensar as suas próprias raízes.

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