joao lopes
24 Jun 2017 23:34
O mercado faz-se também das pequenas cinematografias — eis uma verdade (comercial, antes do mais) que nem sempre é devidamente reconhecida pela dinâmica do próprio mercado. A questão não está na exaltação da "pequenez" (nenhum filme é "bom" ou "mau" por causa das suas origens ou orçamento), mas sim na obstinada defesa da pluralidade da oferta.
Cinema finlandês, por exemplo. É verdade: aí está "O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Mäki", por certo o título mais internacional entre os que a Finlândia produziu nos últimos anos. Este retrato íntimo de um pugilista teve, aliás, um momento decisivo de exposição internacional quando passou na secção "Un Certain Regard", no Festival de Cannes de 2016, arrebatando o prémio principal dessa secção.
Ao abordar a história verídica de Olli Mäki, o realizador Juho Kuosmanen (também co-autor do argumento) terá, por certo, pensado em modelos que imediatamente vêm à memória, desde "Rocky" (1976) a "O Touro Enraivecido" (1980). Seja como for, o seu primeiro mérito consiste em evitar qualquer tentativa de "colagem" a tais modelos. Que é como quem diz: trata-se de se manter fiel à personagem de Olli Mäki, pugilista que, em 1962, esteve à beira de arrebatar um título mundial.
Intrerpretado pelo impecável Jarkko Lahti, Olli Mäki surge, assim, como um misto de heroísmo e romantismo, numa teia de cruzamentos em que a preparação física pode ser sempre questionada pela sua atenção à namorada… Encenado num nostálgico preto e branco, "O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Mäki" consegue, assim, fazer coexistir a pulsão dramática com uma ironia desconcertante — vencer, afinal, não é tudo.