Christian Bale no labirinto de Wall Street — nas vésperas da crise de 2008


joao lopes
14 Jan 2016 3:44

Em meados de 2005, Michael Burry, um excêntrico gestor de fundos de uma grande empresa financeira descobre que o mercado imobiliário americano não passa de um gigantesco castelo de cartas que ameaça ruir a qualquer momento… 

Ninguém o toma a sério, atribuindo antes o negrume de tais "previsões" à sua instabilidade emocional, alimentada com muitos decibéis do hard rock — três anos mais tarde, o cenário apocalíptico traçado por Burry impõem-se como uma crua realidade…

O primeiro grande mérito do filme de Adam McKay, "A Queda de Wall Street" (título original: "The Big Short") é falar-nos de tudo isso, não em tom de relatório mais ou menos chocante (que o é, sem dúvida), mas sobretudo através da actividade de figuras como Burry que detectam os sinais que ninguém quis ver… ou que, pura e simplesmente, foram ocultados através de gigantescos mecanismos de fraude.
"A Queda de Wall Sreet" (baseado no best-seller de Michael Lewis) surge, assim, como um caso modelar de reencontro com a grande tradição social do cinema de Hollywood, enraizada numa atenção constante aos contrastes das relações humanas, seus valores e tensões. Nesta perspectiva, pode dizer-se que McKay, também responsável pelo argumento, consagra as nuances de um realismo tecido de "sociologia" e "psicologia".
Estamos, além do mais, perante um filme que mostra como no cinema americano de hoje são cada vez mais ténues as fronteiras entre grandes estúdios e produção independente. Com chancela da Paramount, este é um filme produzido pela Plan B, de Brad Pitt, também um dos actores principais — a seu lado estão, entre outros, Steve Carrell, Christian Bale e Ryan Gosling, garantindo o valor nuclear deste universo dramático. Ou seja: a singularidade das personagens.

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