crítica
Ser ou não ser Paul Schrader
"Vingança ao Anoitecer" tem assinatura de Paul Schrader, figura marcante na história do moderno cinema americano — o certo é que os resultados finais escaparam ao seu controle, tendo o filme sido alterado pelos respectivos produtores.
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joao lopes
9 Mar 2015 1:39
Infelizmente, não há muito a dizer sobre um filme como "Vingança ao Anoitecer" (título original: "Dying of the Light"). Ou seja: como o argumentista/realizador Paul Schrader fez saber, o que acaba por chegar ao público pouco ou nada tem a ver com o projecto original.
De facto, esta história de um agente da CIA, interpretado por Nicolas Cage, descontente com as opções da Casa Branca no pós-11 de Setembro, foi sonegada aos seus criadores: Schrader viu a estrutura do argumento posta em causa e a sua montagem alterada pelos produtores que integraram mesmo uma banda sonora que o realizador desconhecia. Mais do que isso: toda a concepção visual do filme, coordenada pelo director de fotografia Gabriel Kosuth, foi modificada por processos digitais.
Resta dizer que, de facto, a trajectória de Schrader não tem sido simples. Nos anos 70, foi consagrado como argumentista de "Taxi Driver" (1976), de Martin Scorsese; na década seguinte, assinou filmes de grande impacto como "American Gigolo" (1980) ou "A Felina" (1982).
O certo é que, mais recentemente, os filmes de Schrader têm tido crescentes dificuldades de difusão. Por exemplo, "Dominion" (2005), uma "prequela" de "O Exorcista", também foi concluído sem o seu controle, enquanto o recente (e excelente) "The Canyons" (2013), sobre os bastidores de Hollywood, não estreou na maior parte dos mercados — em Portugal, saíu directamente em DVD com o título "Vale do Pecado".