joao lopes
9 Ago 2014 1:25
Infelizmente, não há muito a dizer de "Guardiões da Galáxia", de James Gunn, uma espécie de ópera-cómica das aventuras espaciais. A não ser, talvez, que a Marvel (o filme inspira-se numa banda desenhada com a sua chancela) adquiriu uma posição no interior da produção de Hollywood que lhe confere tanto ou mais poder que os estúdios com um século de história.
Há que reconhecer que com estes produtos (ditos) para o Verão, a Marvel conseguiu mesmo impor uma ideia de cinema meramente instrumental, como "ilustração" mais ou menos repetitiva da BD e ignorando, ponto por ponto, a riqueza e a complexidade do património narrativo que o próprio cinema americano gerou ao longo da sua fascinante história. Compare-se com qualquer "blockbuster" com mais de meio século — p.ex.: "A Ponte do Rio Kwai" (1957) — e repare-se como se perdeu o gosto de composição do espaço, a elaboração narrativa do tempo, enfim, o mais básico sentido de dramaturgia.
Por alguma razão, na gíria do mercado (e também de alguns discursos jornalísticos, hélas!), filmes como "Guardiões da Galáxia" passaram a ser designados como de efeitos especiais. O que é isso, afinal? Desde logo, uma visão que ignora que o efeito especial é um elemento inerente ao cinema há mais de um século. Na prática, apenas a redução da tecnologia a uma proliferação de explosões e ruídos mais ou menos agressivos, a ponto de a "velocidade" da câmara e a brevidade dos planos nem sequer nos permitirem observar os elementos dos elaborados cenários (físicos ou digitais) a que estes filmes recorrem.
"Guardiões da Galáxia" ostenta, apesar de tudo, uma pequena diferença: o grupo de aventureiros liderado por Peter Quill/"Star-Lord" (Chris Pratt) apresenta-se como uma entidade que envolve algum sentido de humor, explorando sobretudo um certo tom de auto-paródia. O que é espantoso, e profundamente desconcertante, é o facto de tal tom não passar de uma cópia mais ou menos requentada daquilo que George Lucas instaurou com as suas personagens de "Guerra das Estrelas" — se nos lembrarmos da primeira produção dessa saga, isso significa apenas que "Guardiões da Galáxia" quer fazer passar por novidade uma cópia acomodada daquilo que foi feito há 37 anos…