joao lopes
17 Ago 2015 0:49

O nome de Gillian Flynn ganhou evidência na paisagem do cinema americano graças à adaptação do seu romance "Em Parte Incerta" ("Gone Girl"), com assinatura de David Fincher — aliás, por opção do próprio Fincher, ela foi também responsável da respectiva adaptação. O projecto de "Lugares Escuros", adaptado de outro dos seus livros, já existia antes do lançamento de "Em Parte Incerta", mas foi o sucesso deste que facilitou o seu desbloqueamento.

Digamos que o francês Gilles Paquet-Brenner, responsável pela adaptação e realização, não é… David Fincher. Mas seria redutor situar o filme em função do padrão de excelência de Fincher. Acima de tudo, Paquet-Brenner sabe preservar o espírito da escrita de Gillian Flynn. Que é como quem diz: "Lugares Escuros" é, acima de tudo, um thriller que desenvolve uma teia de memórias traumáticas em que a transparência do presente só pode ser conquistada através de uma penosa revisitação do passado.



Mesmo sem extrapolarmos para além do que está no trailer do filme, digamos que tudo se desencadeia a partir de uma tragédia familiar: aos oito anos de idade, Libby Day assiste ao assassinato da mãe e duas irmãs, sendo testemunha essencial na acusação do irmão mais velho… 25 anos mais tarde, Libby revisita os sinais dispersos desses eventos, de alguma maneira sendo compelida a questionar a lógica de toda a sua existência.

Como sempre nas histórias de Gillian Flynn, deparamos, assim, com uma personagem feminina enredada num labirinto de narrativas (desde logo, na estrutura do próprio romance, traduzido entre nós numa edição Bertrand). Nesta perspectiva, é especialmente importante o misto de choque e vulnerabilidade com que Charlize Theron assume a personagem de Libby — em última instância, trata-se de expor os efeitos devastadores que podem surgir da simples passagem do tempo.

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