crítica
Sociologia e ironia “à la française”
O cinema francês continua a interessar-se pelos dramas (e comédias) que nascem das atribulações do espaço familiar: "Que Famílias!" é um novo exemplo dessa lógica, marcando o regresso à realização do veterano Jean-Paul Rappeneau.
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3 Jun 2016 20:54
Será que ainda existe um cinema francês apostado em não deixar morrer a sua mais tradicional vocação romanesca? Ou de forma mais prosaica: será que ainda há obras francesas empenhadas em retratar as famílias "normais" e… os seus muitos desvios "anormais"? Digamos que, face a um filme como "Que Famílias!" (original: "Belles Familles"), teremos que responder afirmativamente.
O primeiro e decisivo valor deste cinema está nos seus actores. E por aqui passam, de facto, talentos tão diversos como Mathieu Amalric e Marine Vacth, Gilles Lellouche, Nicole Garcia, Karin Viard e André Dussolier. Dito de outro modo: várias gerações que, afinal, têm o seu ponto de fuga, simbólico e aglutinador, no mais veterano de todos eles, o realizador Jean-Paul Rappeneau (83 anos).
Em cena estão as convulsões desencadeadas pela possível venda de um palacete da província, dividindo de forma radical os membros da família proprietária. A revelação das diferenças da França "interior" face à grande cidade constitui, aqui, um princípio de encenção que tem tanto de sociologia como de ironia — "Que Famílias!" é, por isso mesmo, um objecto que oscila entre a gravidade do drama e a ligeireza da comédia.