4 Jul 2015 0:48
Dois homens querem garantir que as suas tangerinas serão colhidas no momento certo… Questão aparentemente rotineira e, por assim dizer, meramente agrícola. Acontece que os dois homens são estonianos e o seu pomar fica na Geórgia. Mais do que isso: tudo acontece num momento (1992-93) em que o país está abalado por violentos conflitos internos, desencadeados pelas discordâncias em torno de uma possível independência da região da Abkhazia.
Dir-se-ia que os dois protagonistas do filme "Tangerinas" estão no lugar errado — e na pior das circunstâncias. De tal modo que, depois de a sua propriedade servir de cenário a uma brutal troca de tiros, vão ver a sua casa transformada numa espécie de insólito asilo para dois homens que combatem para facções rivais… De tal modo que se assiste a um verdadeiro teatro político em que a fronteira entre a tolerância e a mútua destruição é mais ténue do que nunca.
Escrito e dirigido por Zaza Urushadze, "Tangerinas" resulta um caso exemplar e, de alguma maneira, didáctico de narrativa histórica. Por um lado, somos confrontados com um realismo descarnado em que a possibilidade de aniquilamento se pressente nos sinais mais discretos; por outro lado, a pouco e pouco, vai-se consolidando uma verdadeira fábula política — trata-se de saber até que ponto o reconhecimento do outro existe (ou não) para afirmar os valores mais básicos da convivência humana e humanista.