15 Mar 2019 23:27
Será possível fazer um filme apenas com grandes planos? E se existir esse filme apenas com grandes planos, será possível que seja um documentário?
A questão é esta: registando Elza Soares, as imagens transmitem-nos uma sensação de proximidade física e, mais do que isso, cumplicidade emocional que faz parecer que tudo se apresenta em grande plano… Até porque, no seu ziguezague de teatralidade e confessionalismo (e atenção: uma coisa não exclui a outra!), a cantora se impõe, de facto, como uma presença que transcende qualquer medida tradicional do espectáculo.
O título surge em inglês (à letra: "o meu nome é agora"), não como resultado de qualquer estratégia de "internacionalização", antes porque essa é uma expressão com que Elza Soares gosta de classificar o seu obstinado empenho na energia do momento presente. Talvez possamos mesmo dizer que, através das muitas memórias da protagonista, este é um filme que se conjuga, todo ele, no presente — não há passado que não seja uma configuração do presente.
Enfim, ao expor-se no seu próprio espelho (metáfora muitas vezes aplicada à letra no interior do filme), Elza Soares acaba por desafiar a vocação "descritiva" que, tradicionalmente, podemos atribuir ao olhar documental. As singulares emoções das suas performances diluem qualquer fronteira entre o concreto da existência e a abstração do espectáculo, consagrando-a como figura maior que a vida. Que é como quem diz: "bigger than life".