joao lopes
24 Dez 2015 17:56
É bem verdade que, ciclicamente, ouvimos considerações mais ou menos desencantadas sobre um défice "social" que persiste no cinema português: haveria falta de filmes capazes de contar histórias do nosso dia a dia, com personagens e eventos em que nos possamos reconhecer. Tomada à letra, tal consideração corre o risco de esquecer que um filme até pode apostar no mais delirante surrealismo e, no entanto, manter uma relação visceral com o seu/nosso presente…
Dito isto, importa valorizar o labor de um cineasta como António-Pedro Vasconcelos que, ao longo dos anos — através de títulos como "Oxalá" (1981), "O Lugar do Morto" (1984), "Jaime" (1999) ou "Call Girl" (2007) —, tem procurado, precisamente, manter uma proximidade, ao mesmo tempo temática e afectiva, com as relações humanas no interior da sociedade portuguesa.
O seu novo trabalho, "Amor Impossível", é a coerente confirmação de tal atitude, aliás inspirando-se em factos verídicos para encenar uma paixão amorosa que, por assim dizer, se desenha entre dois pares tão distintos quanto complementares: de um lado, dois jovens (Victoria Guerra e José Mata) envolvidos numa vertigem romântica carregada de tragédia; do outro, dois investigadores policiais (Soraia Chaves e Ricardo Pereira) que, ao tentarem descobrir o que aconteceu aos primeiros, são confrontados com as fragilidades da sua própria relação.
Apoiando-se, como sempre, num sólido trabalho global dos actores, António-Pedro Vasconcelos aposta também num metódico distanciamento em relação às convenções que, muitas vezes, enquadram este tipo de histórias. Desde logo, escapando às soluções fáceis e maniqueístas do "naturalismo" telenovelesco; depois, propondo uma visão abrangente que escape aos clichés de um país apenas focado na sua capital — "Amor Impossível", enfim, é mesmo uma história vivida e filmada em Viseu.