William Hurt, um dos actores que podemos (re)encontrar na estreia de Christian Camargo como realizador


joao lopes
9 Abr 2015 2:48

Podem fazer-se grandes filmes seguindo as tendências de uma determinada moda (cinematográfica ou não). Mas é um facto que há filmes que se distinguem, antes de tudo o mais, por resistirem a qualquer colagem a qualquer tendência dominante. "Dias e Noites", de Christian Camargo, é um desses filmes — um retrato da América em meados da década de 1980, tendo como inspiração o… teatro de Chekhov.

É verdade: para fazer a sua crónica sobre uma família de uma zona rural da Nova Inglaterra, em 1984 (numa altura em que se aproximam as eleições que reconduziriam Ronald Reagan como Presidente dos EUA), Camargo "adapta" uma peça de Chekhov, "A Gaivota", preservando uma certa lógica dramática que provém das mais inusitadas tensões familiares e afectivas.
É um filme de actores, versáteis e subtis: William Hurt, Allyson Janney, Mark Rylance, Juliet Rylance e Katie Holmes são alguns dos nomes que figuram no elenco. Aliás, começa por ser um filme de actor — isto porque Camargo é um actor (por exemplo, de "Estado de Guerra", de Kathryn Bigelow) que se estreia aqui como realizador, para mais assumindo também as funções de argumentista.
É, acima de tudo, um filme de personagens. Entenda-se: não estamos perante figuras que se distingam pelas explosões que espalham à sua volta, antes entidades marcados por muitos enigmas que apenas podemos pressentir na ambivalência das palavras, na linguagem dos corpos ou tão só nos silêncios que os envolvem. Camargo não tem, por certo, a densidade dos grandes clássicos americanos (Kazan, Preminger, etc.) deste tipo de narrativa — mas é um legítimo e talentoso herdeiro da sua arte.

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