1 Dez 2017 23:47
É bem verdade que a chamada "teoria dos autores" está de longe de poder ser aplicada de modo automático e definitivo. Hany Abu-Assad, por exemplo, é o realizador palestiniano que, com "Paradise Now" (2005), conseguiu que um primeiro título da Palestina fosse nomeado para o Oscar de melhor filme estrangeiro — quem diria que, alguns anos mais tarde, o encontraríamos a dirigir "A Montanha Entre Nós", uma produção americana com Kate Winslet e Idris Elba?
Assim é, de facto. "A Montanha Entre Nós" nada tem a ver com "Paradise Now" — ou outro magnífico filme de Hany Abu-Assad, "Omar" (2013) —, mas não deixa de reflectir um peculiar know how. E tanto mais quanto nele encontramos um certo gosto romanesco cujas raízes estarão na produção clássica de Hollywood, em particular em alguns melodramas das décadas de 1930/40.
Estamos perante uma história de sobrevivência, com as personagens interpretadas por Winslet e Elba a enfrentarem as dificuldades de uma imponente paisagem, depois de a sua avioneta se ter despenhado numa zona montanhosa, praticamente inacessível. Sem contrariar as regras deste modelo de filmes, desde o metódico suspense à sugestão romântica, "A Montanha Entre Nós" possui as virtudes, porventura também os limites, de um objecto que recusa integrar-se nos actuais padrões dominantes de entertainment.
Em boa verdade, apetece dizer que Hollywood (e não só…) teria a ganhar com a existência de mais filmes como este, medianos na produção, ligados a todo um património narrativo e simbólico cujas componentes continuam a seduzir. Que haja actores com o prestígio e a popularidade de Winslet e Elba a surgir em tais filmes, eis o que nos garante, pelo menos, que há mais mundos para lá das convenções dos heróis digitais.