joao lopes
11 Mai 2019 0:36
Mesmo nos seus momentos mais "ligeiros", mais ou menos enredados com canções românticas — lembremos o exemplo modelar de "As Canções de Amor" (2007) —, Christophé Honoré sempre foi um retratista das atribulações amorosas. Por vezes, tal predisposição condu-lo a um confronto directo com o silêncio da morte.
Descubra-se "Agradar, Amar e Correr Depressa", momento admirável da sua trajectória criativa, e tanto mais quanto estamos perante um filme que arrisca lidar com a sida, muito para além de qualquer visão normativa. Tudo se passa em 1993, envolvendo a relação amorosa de Jacques e Arthur, interpretados, respectivamente, por Pierre Deladonchamps e Vincent Lacoste.
Uma maneira sugestiva de definir o que aqui acontece será (re)lembrar o facto de Honoré pertencer a uma árvore genealógica do cinema francês que nos conduz às memórias de François Truffaut (1932-1984) e, através dele, a Jean Renoir (1894-1979). Dito de outro modo: este é um cinema da mais pura vibração emocional e também, por isso mesmo, de celebração da intensidade dos actores.
Por uma vez, estamos perante uma construção fílmica em que a sida não é um "tema" que afunila a narrativa em qualquer dispositivo moral ou moralista. Trata-se, afinal, de colocar em cena a pluralidade interior das relações entre pessoas vivas, fascinantes e contraditórias, isto é, integrar tudo o que vai da verdade primordial dos desejos até à percepção social da doença. Enfim, nada de super-heróis — o melhor efeito especial é sempre o factor humano.