crítica
Um documentário “televisivo”
Podemos reconhecer que "I Am Greta", sobre Greta Thunberg, é um filme de óbvias e respeitáveis boas intenções. Infelizmente, os resultados pouco ou nada tratam as suas causas, ficando quase sempre pelo domínio dos "fait divers".

joao lopes
12 Nov 2021 22:51
É difícil olhar para o documentário "I Am Greta" (à letra: "Eu sou Greta"), de Nathan Grossman, sem sentir que dele emana uma espécie de perversa presciência. De facto, em 2018, quando Greta Thunberg começou a fazer os seus dias de greve escolar, Grossman já lá estava…
O que é, no mínimo, surpreendente: quando a jovem activista sueca era virtualmente desconhecida de todo o mundo, Grossman já lá estava, de facto, com a sua câmara, registando as reacções de espanto e curiosidade dos transeuntes e até entrevistando o pai de Greta.
É caso para perguntar: quem teve a percepção de que estava ali a germinar um imenso fenómeno político e mediático? Ou quem decidiu começar a tratar a solidão de Greta — sentada no chão, com um cartaz, em frente do parlamento da Suécia — como um potencial fenómeno político e mediático? As respostas serão uma expressão de máxima candura. Em qualquer caso, seria interessante conhecê-las.
Enfim, importa acrescentar que tudo isso seria irrelevante, não se desse o caso de, precisamente a partir dessas imagens, "I Am Greta" começar a sua elaboração de um discurso que é muito pouco (quase nada…) sobre as causas e protestos ecológicos que Greta encarna, valorizando sobretudo os "fait divers" e "curiosidades" do seu espaço familiar.
Pergunta-se também: isso implica algum esvaziamento do discurso de Greta, discurso de uma só vez político e ético, apostado em discutir o tema trágico do aquecimento global do planeta? De modo algum.
Apenas se lamenta que "I Am Greta" seja menos um filme e mais uma colagem de "reportagens" aceleradas, à maneira de muitos jornais televisivos, em que, por fim, a gravidade que se reconhece aos temas abordados acabe por se perder num emaranhado de apontamentos superficiais.
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