Grégoire Leprince-Ringuet: actor, argumentista e realizador


joao lopes
21 Jan 2017 0:06

O menos que se pode dizer em relação a um filme tão desconcertante e fascinante como "O Bosque dos Quincôncios" é que, com ele e através dele, (re)encontramos um nome que importa registar: Grégoire Leprince Ringuet, que já víramos em diversos filmes ("Mistérios de Lisboa", 2010, de Raúl Ruiz, foi um deles) e agora se afirma de modo fulgurante na tripla qualidade de actor/argumentista/realizador. 

O título envolve esse enigma que se fixa na palavra pouco comum "quincôncio", mas que rapidamente fica esclarecido. Ou seja: trata-se de uma forma de plantar as árvores, dispondo quatro delas nos vértices de um quadrado e a quinta no centro desse quadrado. Tudo começa, aliás, num bosque assim organizado, envolvendo aquilo que parece ser o fim de uma história de amor entre Ondine (Amandine Truffy) e Paul (Leprince-Ringuet).




Depois, naquilo que começa por ser uma variação sobre uma matriz tradicional do melodrama, desenha-se um triângulo amoroso — isto porque Paul encontra Camille (Pauline Caupenne) e parece começar a viver uma outra história de amor. Em boa verdade, será a mesma história, não só porque, através de Camille, algo de Ondine regressa, mas também porque o labirinto que assim se desenha é eminentemente poético. Em sentido literal: Leprince-Ringuet escreveu os diálogos em verso, apelando a uma envolvente dimensão surreal.

No limite, Leprince-Ringuet consegue reavivar um espírito romanesco profundamente enraizado numa muito nobre tradição francesa. Encontramo-la nos rituais poéticos de Jean Cocteau, de "A Bela e o Monstro" (1946) a "O Testamento de Orfeu" (1960), mas também na ambígua teatralidade de Jacques Rivette — vem à memória, em particular, a estranheza "naturalista" de "Céline et Julie Vont en Bateau" (1974). Enfim, aos 29 anos, Leprince-Ringuet dirigiu este único filme (produzido pelo português Paulo Branco), mas tanto basta para o definir como um olhar e uma voz a ter em conta.

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