joao lopes
14 Mar 2018 23:40
Brasil, nos nossos dias — uma família e as suas atribulações. Esta é a história de Rosa (Maria Ribeiro), frustrada por um emprego mais ou menos burocrático, desejando escrever peças de teatro… Há as infinitas tarefas a cumprir com as duas filhas pré-adolescentes, uma relação tensa com o marido (Paulo Vilhena), marcada por crescentes suspeitas de infidelidade, e ainda as súbitas e perturbantes confissões da mãe (Clarisse Abujamra)…
Digamos que podia ser material típico de uma telenovela — mas não.
Decididamente, não. Há um outro Brasil, imenso, criativo, quase desconhecido no espaço português do audiovisual, que está longe de se esgotar nas matrizes formatadas das novelas. E o filme "Como Nossos Pais", de Laís Bodanzky, aí está como esclarecedor e luminoso exemplo de um cinema atento às convulsões sociais e afectivas do presente, não abdicando de um rigor de encenação que o coloca em linha directa com o melodrama clássico.
Como sempre acontece nestas coisas, o trabalho com os actores revela-se decisivo. E Bodanzky sabe dirigir um elenco de muitos talentos, não falhando sequer nessa complexa tarefa que consiste em encenar crianças/adolescentes sem ceder às convenções do paternalismo mais ou menos pitoresco. O destaque vai necessariamente para Maria Ribeiro, no papel central da mãe, actriz de surpreendente capacidade de transfiguração face ao olhar frio da câmara.
Reflectindo uma tendência actual, detectável nos mais diversos contextos culturais, "Como Nossos Pais" assume um realismo directo, carnal, sempre interessado nas contradições das personagens e suas relações. E convém não simplificar a palavra realismo. Nada a ver com naturalismo ou qualquer ilusão televisiva de "espontaneidade" — ser realista é, aqui, estar atento à vida interior dos espaços que se filmam e à verdade plural, porventura indizível, das personagens que os habitam.
Decididamente, não. Há um outro Brasil, imenso, criativo, quase desconhecido no espaço português do audiovisual, que está longe de se esgotar nas matrizes formatadas das novelas. E o filme "Como Nossos Pais", de Laís Bodanzky, aí está como esclarecedor e luminoso exemplo de um cinema atento às convulsões sociais e afectivas do presente, não abdicando de um rigor de encenação que o coloca em linha directa com o melodrama clássico.
Como sempre acontece nestas coisas, o trabalho com os actores revela-se decisivo. E Bodanzky sabe dirigir um elenco de muitos talentos, não falhando sequer nessa complexa tarefa que consiste em encenar crianças/adolescentes sem ceder às convenções do paternalismo mais ou menos pitoresco. O destaque vai necessariamente para Maria Ribeiro, no papel central da mãe, actriz de surpreendente capacidade de transfiguração face ao olhar frio da câmara.
Reflectindo uma tendência actual, detectável nos mais diversos contextos culturais, "Como Nossos Pais" assume um realismo directo, carnal, sempre interessado nas contradições das personagens e suas relações. E convém não simplificar a palavra realismo. Nada a ver com naturalismo ou qualquer ilusão televisiva de "espontaneidade" — ser realista é, aqui, estar atento à vida interior dos espaços que se filmam e à verdade plural, porventura indizível, das personagens que os habitam.